Não lhe mostra a mesma imagem.
Te vejo se procurando,
Se sentindo perdida de si,
Tentando se encontrar
Em outro lugar
"Ainda" novo e desconhecido.
Te vejo indo
Devagarinho
E ao mesmo tempo
Rápido demais.
Quero frear a marcha
Daquilo que rouba
Você de mim.
Fui furtada
Daquilo que sonhei
Para você
Para nós.
Choro por um sonho
Que não posso mais sonhar.
A realidade que não previ
Está aqui diante de mim.
Já tentei fugir,
Brigar com ela,
Espanta-la.
Não adiantou;
Ela está aqui
Mais do que diante de mim
Em mim,
Em você,
Em todos nós.
Te ver diferente de você mesma,
Daquilo que senti e amei,
Dói a alma,
Aperta o coração.
Um rio de lágrimas
Corre dentro de mim.
Desaguo,
Desabo.
A cada dia
Tento me reerguer.
Vou me reconstruindo,
Desconstruindo a filha
Para construir a mãe.
Fácil ser mãe de filhas
Complicado ser mãe da mãe;
Aprendizado novo,
Talvez o mais difícil!
Sinto-me sufocada,
Tento respirar
Para não me deixar morrer asfixiada
Por uma realidade
Que me tirar o ar;
O ar da vida que sonhamos
E que não podemos mais viver.
Minha criança interna
Chama por você;
Quer a potência e a lucidez
Que lhe falta hoje,
Quer a leveza que se foi,
Quer a alegria que não lhe contagia mais,
Quer o sorriso que se fechou,
Quer o otimismo que não está mais aí.
A mãe que cuida
"Ainda" está!
"Ainda" me reconhece
"Ainda" me aguarda
"Ainda" me ama incondicionalmente
"Ainda" prepara meu alimento
"Ainda" me presenteia
"Ainda" me acaricia
"Ainda" me elogia
"Ainda" me aconselha
"Ainda" tenta fazer por mim
O que não sabe mais fazer.
"Ainda" se encanta comigo
Só não se encanta mais com a vida
E "ainda" assim gerencia seu desencanto.
"Ainda"...
Eis a questão!..
O "ainda" que "ainda" nos resta;
O medo do "ainda" que se vai
E que sem retorno
Possa se tornar
Nunca mais.
Você luta;
Luta pela memória que vai devagarinho
Mas que "ainda" está aí.
Perdeste o véu que escondia
A insanidade esculpida
Com a matéria prima
Daqueles que lhe roubaram
O direito de SER;
Ser o que desejou SER de fato.
Agora sem freios,
Você atropela todos
Com sua revolta
De não ter volta e tempo
Para SER.
Sem máscaras,
Você mostra uma outra face;
Face desconhecida.
Muitos não querem ver.
Querem ver sua cara de boazinha
Sua boca calada
Sua obediência incontestável
Seu jeito doce.
Agora amarga,
De cara fechada,
Incomodando a todos,
Ao invés de defender,
Você ataca.
Você grita;
Desabafa.
Liberta o que ficou sufocado.
Pede socorro também.
Quero salva-la;
Salvar a vida que sonhaste
E que se afoga
Nesta maré pesada.
Você segue
Titubeando
E ao mesmo tempo
Firme,
Expressando uma verdade
Que incomoda ser ouvida
Por quem nunca lhe escutou.
Sente traída e roubada por muitos,
Até mesmo por aqueles que nunca lhe fizeram mal.
Pura projeção!!!
Projeção de todo mal e de tudo que lhe foi roubado lá atrás.
Berra como uma insana,
Quando na verdade
Nunca estiveste tão lúcida.
Vê o que não deixaram
E o que não teve coragem de ver e viver lá atrás.
Descobre teus olhos,
Teus próprios e verdadeiros olhos.
Quer ver com eles.
Finalmente enxerga a cegueira imposta
E o implante de uma visão
Que não era a sua.
Furaram teus olhos!
Cega de raiva
Mostra sua bravura.
Mais que reparação,
Quer Direitos:
Direito de Ser e Ter:
Ser o que lhe foi usurpado,
Ter o que lhe é de direito.
Cobra uma dívida
Que não pode mais ser paga.
Alguns fingem paga-la
Com migalhas
Que não engole mais.
Vomita em todos
O mal que sempre esteve aí,
Que se transformou
No seu mal estar agora.
Todos se sentem mal,
De um mal que julgam
Você estar causando.
Vendo tudo isso,
Descubro na sua demência a nossa.
Você esquece os fatos presentes,
A gente esquece
Fatos passados;
Passados por você
Como se eles pudessem
Ser passado,
Ter passado.
Tudo passa por você agora.
Tentamos frear sua dor
Tentamos frear sua agitação
Tentamos frear sua agressividade
Tentamos frear sua revolta
Só não tentamos frear a nossa incompreensão
Nos atropelando com nossos desentendimentos.
Psicotizamos a sua dor
Tentando remediar
O que não tem remédio mais.
Como nunca fizera antes,
Você bate de frente,
Ultrapassa na faixa contínua,
Acelera o que tentamos frear.
Você sabe como ninguém
Que não pode parar.
Vai seguindo para um lugar
Que não conseguimos enxergar.
Os últimos capítulos de sua história,
Você escreve e se reescreve.
Contaste a mim tantas histórias,
Agora é minha vez de ler a sua.
Transformo em poesia
Dor e desalento.
Te aceito,
Te admiro.
Assim!
Exatamente como está agora.
Você está aí como nunca esteve antes
E isso é simplesmente
Maravilhoso!!!
Muito doído e confuso,
Mas "ainda" assim
Maravilhoso!!!
Te amo
Te compreendo
Te acolho.
Velhinha?
Não!!!
Acolho uma nova mulher;
Renovada!
Uma admirável mulher,
Mãe de tudo isso
Que aprendi
E estou aprendendo agora.
A mamãe que sempre foi
Me deste agora uma função valiosa:
Desmascarar a hipocrisia
Gestar, parir e cuidar
Da nossa verdadeira história.
Farei o melhor!
Por você
Por mim
Por nós duas
Por todos nós.
"Ainda" que me custe
Muita dor "ainda,"
Conte comigo
Sempre!
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