Neste momento de pandemia, dedico esta poesia a todo aquele que "olha" e não recebe de volta um olhar
Cuidei de muitos,
Esqueci cuidar de mim.
Quando desejei
Um olhar cuidadoso
Que não fosse o meu,
Meu grito de socorro
Se perdeu num vazio
Cujo silêncio não dizia nada
E ao mesmo tempo
Dizia tudo
Que eu não queria ouvir.
Agora sigo
Tentando socorrer
O meu Eu ferido.
Me debato
Tentando salvar
Uma esperança,
Um sorriso qualquer.
Sem acolhida,
Sou rebatida;
Sigo abatida
Sem sair do lugar.
Ao invés do afago
Afogo em lágrimas
Velando o que nutri para manter vivo.
Quando darei conta
De sair ilesa
Desta onda ressentida
Que me rouba o sentido?
Talvez o meu salva vidas
Seja um pouco de atenção
Ou, no mínimo,
Um olhar que me veja,
Que não sendo do outro
Seja o meu próprio olhar
Refletindo empatia por mim.
Já nem sei mais
Me posicionar,
Perceber meu próprio lugar
Ou o lugar de cada sentimento
Dentro de mim.
