Transitei tantos anos pelos caminhos da astrologia e somente hoje, enxergo como nunca enxerguei antes, o impacto e a representação que a lua tem não somente nas minhas emoções, mas sobretudo na vida de minha mãe e em toda história que construímos juntas. Dedico esta poesia a ela, cuja demência lhe roubou um pedaço da lua e também a todos que não sabem lidar com os "despedaços" dela.
Está faltando um pedaço da lua!
Tiraram um pedaço dela!
Quando cheia,
Sempre amei olhar para ela;
Um olhar inteiro que se partiu,
Partindo a beleza
Daquela lua
Que hoje não é mais a mesma.
Mudanças...
Mistérios...
Olhem para ela!
Uma estranheza que me toca!
Doída.
Uma diferença que me fere!
Ferida.
Quase irreconhecível !
Estranha.
Sem a mesma forma!
Retorcida
Sem o mesmo brilho!
Obscura
Sem o mesmo encanto!
Desencanto.
Se eu conhecesse a face escura da lua,
Eu diria que ela está virando...
Revirando, ela rebate;
Bate de frente
Com o que sempre fugiu:
" Cadê meus olhos?
Eu quero meus olhos.
Não sei onde pus o meu olhar.
Esconderam o meu olhar.
Não quero óculos;
Quero um olhar novo,
Um olhar só meu.
Não quero teus olhos;
Quero os meus,
Que mesmo tortos,
Enxergam.
Amo mais o meu estrabismo
Do que sua visão certa.
Queres que eu veja com seus olhos,
O que os meus olhos cansados de ver com os seus,
Insistem não ver mais.
Agora, “olhar só meu”!
Quero saber;
Saber só meu.
Saber de tudo
Que eu não sabia saber.
Acolher a minha ignorância;
Sábia ignorância!
Rejeitar toda e qualquer ignorância
Travestida de sabedoria.
Hoje sei!
Sei do culpado da lua partida.
Um meteoro,
Uma pedra gigante
Voando como flecha
Veio de um espaço
Que não consigo situar.
Veio numa velocidade
Que não consigo mensurar.
Veio num tempo
Que acreditei nunca chegar;
Acertou a lua
Arremessando-a estilhaçada
No fundo do mar.
A maré vai subir,
Vai cobrir tudo.
A lua vai sumir!
Remando contra a maré,
Como me sinto agora,
Todos irão viver
O não viver que vivo agora.
Se vocês não acreditam,
Se vocês não enxergam
A nitidez do que digo;
Há de chegar o dia
Do apagão da cegueira.
A visão acesa
Vai refletir a luz.
É só uma questão de tempo!.."
Enfim...
Minha mãe me disse tudo isso
Em linhas e entrelinhas.
Eu não acreditei.
Ironizei!
Tentei convence-la do contrário.
Se manteve irredutível.
Me debati!
Desesperei!
Fechei os olhos para não ver.
Com o coração flechado,
Aos trancos e barrancos,
Despedaçada como a lua,
Aceitei o inevitável.
Falta mesmo um pedaço na lua!
A cada dia um pedaço se vai...
Dos meus despedaços,
Me recrio.
Da lua minguante
Criei uma lua nova,
Que cresce em mim,
Cheia de imaginação.
Em novos horizontes,
Nasce imensa,
Como um sol
A iluminar a escuridão.
Emerge com toda potência
Do mar de minha alma.
De alma lavada,
Eu sigo;
Agora mais leve,
Aberta,
Criativa como criança,
Bem juntinha da mamãe,
Contando e recontando
As histórias da Lua.
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