Dedico esta poesia ao Gabriel e a tantos outros como ele que cruzaram o meu caminho apontando um caminho que ainda não sei percorrer
Queres que
eu saiba
Quem eu sou
Como posso
não saber?
Se sou eu
quem vivo
O que sou de
fato
E vivo o fato de
não ser
O que queres
que eu seja
Sei que não
sei claramente
O que sou na
sua cabeça
Mas temo
saber e fujo
Do monstro
oculto que me oculta
Tentando
esfacelar o meu ser
Transformando-me
naquilo que não sou
Para ser
algo que valha à pena
Para tu que
tens pena de mim
Queres que
saiba o que tenho
Como posso
não saber?
Tenho tudo
que me desvaloriza
Aos olhos de
quem tem valores
Que não
cabem em mim
Ao mesmo
tempo...
Não tenho
nada que lhe preencha
Queres que
eu entenda com seu cérebro
Abortando a
minha razão
Que eu
entenda o seu mundo
E me desentenda
com o meu
Que eu
acredite estar errado
Para seguir
o seu caminho certo
Legitimando a
minha ignorância
No reinado
de sua prepotência
Queres que
eu aceite o seu mundo
Quando não
aceitas o meu
Bombardeia o
meu ser
Com diagnósticos
tirânicos
Que me
destroem
Construindo o
código internacional
Do ser
patológico perfeito
Que justifique
e sirva de álibi
Para suas boas intenções
Queres que eu
veja com seus olhos
Que eu fure os meus
Que eu fure os meus
Que eu ateste a minha cegueira
Enxergando com a sua
Que eu aceite
ser guiado
Com a sua
bengala
E tropece em
mim
No espectro da normalidade
Que caracteriza seu mundo
E me descaracteriza
Não consigo Ser
Normal leve
Normal moderado
Ou normal severo
No espectro da normalidade
Que caracteriza seu mundo
E me descaracteriza
Não consigo Ser
Normal leve
Normal moderado
Ou normal severo
Queres que
eu enxergue e aceite
A minha
deficiência
Sei lá para
que...
So sei que
há uma razão
Para eu ser
assim
Tão diferente
de você
Razão que
sua razão desconhece
E o meu
coração apetece
Sei de
muitas coisas
Que você
jamais saberá
Sei de mim
Embora pense
o contrário
Sei o que
aprendi
Em cada
olhar de rejeição
Nos bulings
que sofri
Nos espaços
que não existem para mim
E naqueles que só existem em mim
E naqueles que só existem em mim
Sei muito de
mim
Você é quem
não sabe
Ao contrário
de ti
Compreendo a
sua deficiência
O seu medo
de perceber
O que te ultrapassa
E se perder
Por isso não
quero para ti
O que queres
para mim
Queres tanto
para mim
Desejos seus
Queres que
eu não queira
Desejos meus
Queres o que
lhes ensinaram a querer
E que graças
à minha deficiência
Eu jamais
aprenderei