Dedico esta poesia aos
porcos transportados naquele caminhão fedorento que transitava pela estrada mineira. Sem poder ultrapassa-lo tive que suportar o mal
cheiro não só daqueles animais, mas de tudo que os fazem vítimas da sujeira de
um mundo que lhes nega o direito de existir como animais e lhes impõe o dever
de ser carne.
"Porco"! Quisera eu reverenciar não só a palavra, mas o animal que a representa. No entanto, o homem precisa simbolicamente projetar a sua sujeira, gula e luxúria num lugar que não seja ele mesmo.
"Porco"! Quisera eu reverenciar não só a palavra, mas o animal que a representa. No entanto, o homem precisa simbolicamente projetar a sua sujeira, gula e luxúria num lugar que não seja ele mesmo.
Quem são os verdadeiros porcos?
Suínos aprisionados em ceva
Ou gente suja
Aprisionada ao Ego faminto
Que devora e caga
Fedendo e sujando
O que deveria manter limpo?
Fedendo e sujando
O que deveria manter limpo?
Quem é mais porco?
Suínos condenados à morte
Ou quem os condenam?
Se fazendo Deus
E de Deus, a sua semelhança
Ditam a sujeira
Que cremos ser limpa
Quem é mais porco?
Suínos na pocilga
Que fede a ração que defeca,
Ou esta gente na politica
De se fazer bonzinho
Que fede o poder
Que castra nosso olfato?
O que é mais porco?
Suínos engordados para o corte
Ou o corte na conta dos fracos
Para engordar os porcos do poder
Que cevam impostos e altos juros
Aumentando as cifras da sujeira
Defecada sobre os seres frágeis?
Quem é mais porco?
Aquele que na carência da palavra
No berro doído de seu SER
Não é ouvido pelos surdos do poder?
Ou esta gente porca,
Poderosa
Que cala vozes espargindo terror?
Com atitudes politicamente corretas
Ou porcamente corretas
Esta gente transforma suínos em
porcos
Ou em lindos cofrinhos
Simbolicamente significativos
Faz da carne o seu sustento
E da hipocrisia o seu alento
Quisera o sorriso
quando me resta o choro
A beleza e a força suína
Encoberta pelo véu da barbárie
Encobre a visão bonita que deles
gostaria ter
Vejo a escravidão e o medo
Sinto mais do que vejo
Minha angústia e impotência
Sinto o cheiro podre de fezes
Quando poderia respirar
Fedô das ditas suinoculturas
Verdadeiros campos de concentração
Fedô de porcos enjaulados em caminhões
Espargindo pelas estradas
A catinga das suas últimas horas de “desvida”
O destino dos suínos
É ditado pelo Deus gente
Que em sua diabólica Glória
Abençoa a insanidade
Transformando em loucura
Tudo que transcende a debilidade
humana
Ou joga luz sobre a sombra de sua inconsciência
O Deus gente
Trafega pela contramão
Na estrada da vida faz vítimas
Se sente o dono da via
Faz leis que favorecem
O seu próprio trânsito
Ultrapassa quando deveria estacionar
Esse Deus Gente
Faz com a sua própria gente
Porcos da vez,
Vezes sem conta.
Faz com tudo que é vida,
Porcos sem vez.
Era uma vez...
Esta gente fantasiada de Deus
Desfila em seus cargos alegóricos
Fazendo da tragédia do outro a sua
festa,
Um carnaval que dura o ano todo.
Tempo sem fim;
Fim dos tempos.
Tempo ruim que não pode mais ser.
Eu tenho o que os suínos e tantos
outros seres não tem.
Eu tenho a palavra
A voz mediada por ela,
E alguma consciência que me veicula.
Tenho direitos e deveres.
Tenho uma identidade.
Sou alguém.
Sou alguém
Que não é ninguém,
Mas alguém no meio desta merda toda.
Ou eu cago mais e me emporcalho
Ou eu me limpo e me “humanizo.”
Não humanizo o mundo,
Mas transcendo-o começando por mim.
E assim sigo a minha viagem
Veiculada por alguma consciência
Que me faz ultrapassar os porcos,
Que me ultrapassam quando distraio,
Mas que ultrapasso novamente, incessantemente ...
Definitivamente,
somente
CONSCIENTE sem a mente que mente
Para a consciência não doer
A gente faz como toda gente
Se anestesia contando e recontando
Mentiras que mente gosta
Para consciência se manter limpa
A gente faz como Pilatos:
Lava as próprias mãos.
Travestida de consciência limpa
A gente se veste como toda gente
Traveste o nosso olhar
Traveste a nossa escuta
Traveste o nosso discurso
Vestido de boas intenções
A gente não se desnuda
E assim a gente segue em glória emporcalhando tudo...
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